Leia este poema de Mário Quintana.
Querias que eu falasse de "poesia"
Querias que eu falasse de "poesia" um pouco
mais... e desprezasse o quotidiano atroz...
querias... era ouvir o som da minha voz
e não um eco – apenas – deste mundo louco!
Mas que te dar, pobre criança, em troco
de tudo que esperavas, ai de nós:
é que eu sou oco... oco... oco...
como o Homem de Lata do "Mágico de Oz"!
Tu o lembras, bem sei... ah! O seu horror
imenso às lágrimas... Porque decerto se enferrujaria...
E tu... Como um lírio do pântano tu me querias,
como uma chuva de ouro a te cobrir devagarinho,
um pássaro de luz... Mas, haverá maior poesia
do que este meu desesperar-me eterno da poesia?!
QUINTANA, Mário. Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 2006.
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1. No poema Querias que eu falasse de “poesia”, de Mário Quintana, na primeira estrofe o eu lírico dirige-se a um interlocutor que quer ouvir algo sobre “poesia” e não sobre o “quotidiano atroz”. O que se pode perceber a partir dessa colocação do eu lírico? Explique sua resposta.
É possível perceber que há certa ironia nessa fala do eu lírico, que segue afirmando que o que se quer é a noção de amenidades, e não as verdades “deste mundo louco”.
2. Releia a segunda estrofe do poema de Mário Quintana e responda: Nesses versos, o eu lírico estabelece uma comparação entre o que ele pode oferecer e o “Homem de Lata do ‘Mágico de Oz’”. Por que o eu lírico utiliza esse recurso? Justifique a sua resposta.
No contexto em questão, ao estabelecer uma comparação entre si e o “Homem de Lata”, o eu lírico tenta justificar a falta de condições para falar de “poesia” e deixar de lado as atrocidades do dia a dia, pois afirma estar “oco”, ou seja, incapaz de se expressar subjetivamente, assim como o personagem de Oz, que “não tem coração”.
3. Nos versos “querias... era ouvir o som da minha voz / e não um eco – apenas – deste mundo louco!”, o uso do artigo definido o, antes da palavra som, e a escolha do artigo indefinido um, antes do vocábulo eco, atribuem que significado ao contexto apresentado? Comente a sua resposta.
Quando o eu lírico faz a opção, nos versos transcritos, pelo artigo definido o, antes da palavra som, e pelo artigo indefinido "um", antes do vocábulo eco, há uma mensuração de valores, que dizem respeito, na cena construída, à importância da voz desse eu lírico, diante do eco do mundo todo: por mais que esse eco represente uma maioria, é genérico, portanto, mais fraco e menos importante que o som da voz do eu lírico, que pode ser considerado único, forte e especial. E esse entendimento torna-se possível em razão da escolha dos artigos.
4. A expressão “pobre criança”, que aparece na segunda estrofe, assume o papel de uma unidade de chamamento, um vocativo. Considerando o contexto, que sentimento ela exprime? Explique sua resposta.
Nesse contexto, a expressão “pobre criança” exprime um sentimento de lamentação, que se dá em meio à descoberta da realidade: o eu lírico não conseguirá atender ao pedido do seu interlocutor, por causa da fraqueza dele diante da força da realidade da vida cotidiana.
5. Transcreva o verso do poema em que há uma interjeição e explique o valor semântico que ela expressa no contexto.
No verso “Tu o lembras, bem sei... ah! O seu horror”, a interjeição “ah!”, no contexto, exprime o valor de espanto, de surpresa com a descoberta que se instaura frente à comparação estabelecida pelo eu lírico.
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